WAGNER SILVA GOMES
Os Do Poleiro Com Os Dos Anjos
A cerveja fica choca, nasce o dia
O sol é a ultrassonografia
Pintos são libertos do caminhão,
mas do pé-duro, é uma pena,
nunca parou no poleiro
não era de criação
Das rosas brancas sinto a pena
a pelar
Foi então que fiz crescer um garnizé
que metia o pé, soltando seu esporão
Das rosas brancas sinto pena
feito o aço
do meu galo prata
contra as pétalas vermelhas
na crista
do meu polaco
Os do poleiro com os dos anjos,
tem o corpo a sombra
A lua fica choca noite e dia
como o verbo tem o verso
antes da legenda do karaokê,
confia, vou cantar
Como fosse pinto, brindando,
choco o bar
Já tonto de ver a estrela d’alva
na espora do sapato
rasguei o verbo do contrato
da rinha do diabo
Que porra de gemada é esse sol
na cabeça.
O Microfone Por Tubos De Ensaio
Os meus ideogramas passam por tubos
de ensaio, eu os manipulo,
imprimo-me,
escrevo o meu corpo em pauzinhos,
o rap é de raiz
Quem não é visto não é lembrado
Deixar transparecer a ferramenta de trabalho
não é defeito em nenhum design
Tem baforada a inspiração, contra a névoa
da poluição, se liga meu irmão
Vai ouvir falar de experimento tipo Luke Cage
Nessa manhã branca de pretos ideogramas
virando mortais imortalizados
Quem não é visto não é lembrado
Deixar transparecer a ferramenta de trabalho
não é defeito em nenhum design
Quantos gramas, Kg, no café da manhã
Da padaria que era de fachada
quantos gramas eram pão de ló
(vixe, é melhor nem olhar)
Nessa noite preta de aluados esqueletos,
quantos foram abduzidos, quantos holofotes
Mira a laser, rajadas, corpos alongados
em quantos ideogramas
ficou o Sombra, que parecia de Hiroxima
ou Nagasaki depois das bombas
Quem não é visto não é lembrado
Deixar transparecer a ferramenta de trabalho
não é defeito em nenhum design
A terra até esquece os múltiplos de 7,
palmos de gramas, Kg, ideogramas,
e pra não ficar doente até desenha a flor
com o adubo que cada um tem de bom
Se a terra vai por essa lógica eu não vou
já vi erva daninha até no cemitério
Entre a erva daninha e a rosa, o microfone
o mano tanto arranca quanto planta
Quem não é visto não é lembrado
Deixar transparecer a ferramenta de trabalho
não é defeito em nenhum design.
Wagner Silva Gomes joga moleque e vira poesia.