Existirá um cinema em diálogo (contra ou em tensão) com a literatura? Sempre, por definição? Em que medida será operativo pensar um cinema narrativo e um cinema poético ou lírico?
responde JOÃO CANIJO
Não. Cada representação da realidade origina uma interpretação individual dessa realidade. A literatura só tem diálogo com o cinema como ponto de partida de uma representação que será sempre uma recriação. O cinema narrativo enquanto devedor das fórmulas aristotélicas e enquanto arte começa a deixar de fazer sentido. Continua a fazer sentido enquanto entretenimento. Sendo assim a literatura só pode servir como inspiração e não como modelo.
Poético e lírico é uma definição pouco precisa. Pode-se confrontar cinema narrativo convencional com cinema emocional. Por emocional entende-se uma forma que dispensa a estrutura narrativa e se salva na empatia que as emoções dos personagens são capazes de criar com o público. Esta forma permite à imaginação dos públicos fazer a sua própria representação do que se lhe apresenta. Os modelos desta forma são a música e a pintura.
João Canijo é cineasta.